quinta-feira, 28 de maio de 2009

O poeta depara-se com a folha em branco de papel



O poeta depara-se com a folha em branco de papel


Ele deparava-se com a folha, a folha de papel em branco.

Aquela manhã fora pior que todas as outras, pois a noite havia sido passada em claro e a folha branca ainda não havia sido vencida, aquele branco cruel e silencioso.


A primeira lagrima correu nas olheiras da noite anterior, torneou o nariz e saltou no ar caiu borrando o branco silêncio de papel; a segunda lagrima veio mais forte e grossa no mesmo percurso caiu e borrou mais uma vez o branco do papel. Estavam lá duas manchas salgadas transparecendo levemente a alteração no papel; mas ele sabia que aquelas marcas tão tristes e salgadas eram só o começo, e não eram o bastante para apagar a expressa brancura do papel.


A idéia fixou-se rápida e elegante como a lâmina que já o perfurava-o nos pulsos, alem das marcas lacrimais jorravam matando o branco da folha de papel as lagrimas vermelhas de sangue quente e pulsante.


Autor (Eu) Guiovan Clementino de Oliveira

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Meu pai estar morrendo dentro do quarto...



Meu pai está morrendo dentro do quarto.

O quarto é escuro e meu pai está morrendo lá.
Aqui na sala estamos aguardando que meu pai morra.
Meu nome é Adriano e o médico disse que meu pai ia morrer antes das 8 da noite, mas já passa das 10 da noite.
No quarto onde meu pai está morrendo deitado numa cama, minha mãe é um vulto branco na cabeceira.
Às vezes meu pai grita.
Quando meu pai grita o vizinho do lado, que, quando, passa deixa um rastro de alegria na rua e que está sentado no sofá aqui na sala, fica olhando para mim e eu sinto vontade de cantar, mas cantar é a ultima coisa em que devo pensar agora.
Ele é moreno, falso magro, talvez tenha vinte anos ou quando muito 23, seus olhos são de cor cinza e eu quero olhar para ele, mas olho para o chão.
Ele está sentado no sofá logo na minha frente e se meu pai não estivesse morrendo, eu poderia olhar seus músculos.
Podia olhar seus braços fortes quando ele os cruza.
Podia olhar um pedaço de suas pernas.
Podia olhar seu tórax moreno.
E sua boca, que tanta sede me dá, eu também podia olhar se meu pai não estivesse morrendo.
Mesmo assim olho para ele __ disfarçadamente eu olho.
Ele acende um cigarro e eu gosto do jeito dele segura-lo e de como engole a fumaça e depois a solta pelo nariz e pela boca, ah eu quero beijar sua boca, mas escuto um gemido e lembro-me que meu pai está morrendo.
Então ele me olha com seus olhos cinza e eu fico querendo cantar.
Tento pensar em meu pai.
Nunca, em toda minha vida, nem quando eu era criança, meu pai me abraçou me beijou ou passou as mãos nos meus cabelos.
Não me lembro de vê-lo rir alguma vez.
Lá no sofá, o vizinho cruza os braços -- ele não devia fazer isso.
Eu podia dizer a ele que meu pai sempre foi um homem triste. Acho que ele ia entender perfeitamente.
Minha mãe sai do quarto onde meu pai está morrendo, para na minha frente e diz que ele está me chamando.
Todos me olham e o vizinho me olha com seus olhos cinza e eu quero cantar, e entro no quarto, onde meu pai está morrendo.
Eu me ajoelho na cabeceira da cama e a mão de meu pai começa a tatear meu rosto no escuro do quarto, como se seus dedos quisessem recordar para todo o sempre como é meu nariz, minha boca, minha testa. E meu pai fala:
___Meu filhinho!
Nunca tinha me chamado assim e agora na hora da morte repete:
___filinho!
Meu pai segura minha mão e pergunta se eu me lembro de quando caçávamos patos selvagens. Repondo que sim e meu pai rir e diz:
__a gente era feliz e não era?
Digo que sim e outra vez meu pai rir, ele está morrendo e rir.
Deixo meu pai morrendo dentro do quarto e volto á sala lá está ele, o vizinho, sentado no sofá como o mestre sala da escola de samba; mas não é hora de ser alegra, e eu subo a escada que leva á parte de cima da casa, deito na cama, com a cabeça enfiada no travesseiro, e fico pensando em meu pai.
Escuto a escada e imagino que alguém vem me dizer que meu pai morreu.
Tiro a cabeça do travesseiro e olho: é o vizinho que vem chegando. Quero cantar, mais isso não posso nem devo fazer.
Ele senta na cama e eu beijo sua boca de lábios ressecados.
Ele levanta-se fecha a porta do quarto onde estamos e volta, e eu o abraço e beijo.
Eu o comparava aos anjos quando via passar de manhã, mas agora meu pai está morrendo e eu o tenho nos braços, suspeito que ele seja o demônio que veio me tentar.
Nus no quarto, eu ele nos amamos.
O vento sopra uma aragem em nossos corpos nus e suados.
Eu sinto na boca o gosto salgado da pele. E ele Diz: “O sal está na rosa silvestre”. Pergunta: Conhece T.S Eliot? Eu digo que não. E ele declama:
“Não sei muito acerca dos deuses, mas creio que o rio é um deus castanho...”
E uma canção começa a cantar dentro de mim como uma festa, mas eu sei que não é hora de cantar, nem de festa, afinal meu pai está morrendo.

Adaptação do romance de Roberto Drumond para poema: Autor (Desconhecido)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

E assim me veio a morte...



E assim me veio a morte...

Sentei-me em uma cadeira perto da esquina onde o vento faz sua manobra e volta para a Terra.
Lá os pensamentos tinham um gosto amargo e eu sentia a infelicidade dos homens em mim.
Aquela cadeira áspera tinha a consistência de um soluço, todo aquele mal estar todos os pensamentos ruins, todas as sombras antepassadas pelo tempo amoral e tragador, pediam por socorro e tiravam de mim o resto de percepção que me era de direito. Queria fugir, mas, não encontrava consistência alegre de solo algum; Queria gritar, mas, não encontrei cognição vocal e liberdade de atuá-la; Tentei pensar e esse foi o meu derradeiro erro, pois a mim foi tirado todo o pensamento feliz e bondoso que me foi dado quando eu ainda habitava a terra dos homens santos e vis.
Meus pensamentos foram sugados forçadamente, pelas sombras atemporais undergroudzadas que habitavam aquele solo de asfalto gasto. Já cansado via todo o meu corpo, Degrada mente se tornar cinza, sem nenhum tipo de consistência humana, eu já não ouvia nada, já não via nada, já não sentia, já não existia mais...

Autor (Eu) Guiovan C. de Oliveira

quarta-feira, 20 de maio de 2009

DEUS


Deus Cadê Você?

Quando irmãos se separam

Cada qual toma seu rumo

O Mais novo fica a mercê

As sementes se espalham

Cada qual com seu prumo

E eu que pergunto: Deus Cadê você?

O destino nos cala

Quando iremos morrer?


Logo naquele dia em que eu...

Ia por em dia

A história dos homens

Deus Resolve morrer...

E quando Deus morre

Irmãos se separam

Amizades acabam

Sonhos se espalham

E Deus? Cadê? Nada!


Não temos comida de graça

Não temos chão para pisar

Não se pode nascer

Nos dias de hoje

Fica caro morrer

Deus Cadê Você?

Deus responda!

Quem te matou?

Quem te criou?

Quem lhe deu seu nome?

Em toda a história já tivemos quantos homens?


Deus cadê meus irmãos?

Cadê meus amigos?

Cadê o Bendito do Seu Filho que não vem?

Quero me ir

Quero me esconder

Mas deus responda!

Cadê Você?



Autor: (Eu) Guiovan C. de Oliveira