Mudança de comportamento e isolamento São freqüentes em quem sente E se sente inocente Vivendo revivendo Explorando encarnando Procurando reconhecendo O invento reinvento desfazendo E o tempo enlouquecendo e Matando maltratando Humilhando desencarnado o isolamento É difícil encontrar uma pessoa como eu Disposta a contar tudo que se deu No dia do fato do rato do gato Do sapo e do ato da peça da noite Hoje me deixe de lado Já tenho dezoito já mostro no rosto as marcas do tempo E a saudade dos grandes inventos Dos grandes homens Dos velhos tempos
Dentro de um livro empoeirado que estava em uma estante da biblioteca de um velho poeta, os poemas discutiam entre si, faziam muito barulho que ecoava por toda a sala.
O poema do amor dizia aos outros poemas:
__Eu me expresso melhor do que qualquer um de vocês, pois não há inspiração melhor do que a minha, ou seja, eu sou o Amor!!!
O poema tristeza logo se irritou com toda a ostentação que foi atribuída ao amor, e desatou a falar bem alto quase num berro:
__Não mesmo!!! Eu que sou a melhor das inspirações, pois quando o poeta fica triste, triste de não poder mais, e tem vontade de sumir e nunca ter existido, eu é que vou até lá e inspiro o fundo da sua alma triste e faço-o ele escrever os mais belos versos!!!
O poema Sujo logo pigarreou com seu cigarro na boca e disse:
Nada Disso!!! Eu sou o melhor entre vocês, pois a inspiração que proporciono ao poeta é sobre fatos corriqueiros e cotidianos que aconteceram em sua vida, sou eu que faço o leitor do poema reciclar suas ideais rotineiras, pois sou eu que lhes chamo a atenção mostrando a sutileza das coisas comuns da vida real.
__Nada disso!!! Vociferou o poema Sacro com uma voz gregoriana: __ Eu sou toda e qualquer fonte de inspiração, pois eu faço a conexão do homem com Deus, e eu elevo a alma de varias e varias pessoas ao contrario de você companheiro Amor que ilude a todos, e a você companheiro Tristeza que arrasa tudo onde passa, não ache que você escapou companheiro Sujo, sua realidade cruel nos assusta!!!!
Bronha nenhuma!!!! Disse o poema Erótico. __ Eu é que provoco os mais excitantes pensamentos e deixo todos suando e com vontade de fazer o que há de melhor na vida Sexo, sexo, sexo...
___Quem lhe disse Isso companheiro Erótico? Eu o complicado da história o poema Abstrato que confundo e quebro a cabeça dos leitores para que esses possam entender o que quero expressar nas minhas entrelinhas metafóricas. Só eu posso ter uma interpretação diferente para cada leitor. Todos vocês estão equivocados eu é que sou o melhor!!!!
____Nada Eu é que sou o mais Belo!!! O concreto que alem de belas palavras construo imagens belas de se apreciar, sou eu a verdadeira face da arte sou literatura e a figura ao mesmo tempo !!!!
O Velho poeta entrou em sua biblioteca disposto a ler alguma coisa e começa a ouvir todos aqueles berros vindos da estante puxa o livro que faz os ruídos em questão e o abri, os poemas estão tão absortos em suas discussões que nem percebem que estão sendo observados. O velho ouve calmamente os berros sonantes de todos eles e então decidiu intervir!!!
___ Hrun!! Hrun!!! Pigarreou. Sou o poeta e acredito que devem parar de brigar entre si, querendo um ser melhor que o outro!!! Pois cada um tem seu reconhecimento especial e todos juntos poderiam fazer o mais belo dos mais belos textos produzidos por uma mente humana.
Os poemas se calaram e concordaram com um silencioso aceno de cabeça!!!
Foi ai que tudo começou e o poeta iniciou sua árdua tarefa junto com a colaboração de cada poema de escrever o poema mais bonito que todo o homem já viu e ouviu!!!!
Em certo tempo de pensamentos escassos Um certo cérebro vasculhado de cima a baixo Um certo poema que a tinta não quer por no papel Um certo poema que não quer sair e dizer onde é o céu Um certo verso fujão que some das lembranças e do coração Um certo refrão que não me diz o que fica depois do chão Procura-se uma letra para emendar Procura-se uma frase para rimar Sabes onde posso encontrar? Musica, Vida, Sol, Mar Tenho tanto a falar Mas não sai, então irei procurar! Um certo amor que não quer ser visto ou lido Um certo pensamento que não quer aflorar Procura-se um poema, se achares não se esqueças de me avisar!
Ele deparava-se com a folha, a folha de papel em branco.
Aquela manhã fora pior que todas as outras, pois a noite havia sido passada em claro e a folha branca ainda não havia sido vencida, aquele branco cruel e silencioso.
A primeira lagrima correu nas olheiras da noite anterior, torneou o nariz e saltou no ar caiu borrando o branco silêncio de papel; a segunda lagrima veio mais forte e grossa no mesmo percurso caiu e borrou mais uma vez o branco do papel. Estavam lá duas manchas salgadas transparecendo levemente a alteração no papel; mas ele sabia que aquelas marcas tão tristes e salgadas eram só o começo, e não eram o bastante para apagar a expressa brancura do papel.
A idéia fixou-se rápida e elegante como a lâmina que já o perfurava-o nos pulsos, alem das marcas lacrimais jorravam matando o branco da folha de papel as lagrimas vermelhas de sangue quente e pulsante.
O quarto é escuro e meu pai está morrendo lá. Aqui na sala estamos aguardando que meu pai morra. Meu nome é Adriano e o médico disse que meu pai ia morrer antes das 8 da noite, mas já passa das 10 da noite. No quarto onde meu pai está morrendo deitado numa cama, minha mãe é um vulto branco na cabeceira. Às vezes meu pai grita. Quando meu pai grita o vizinho do lado, que, quando, passa deixa um rastro de alegria na rua e que está sentado no sofá aqui na sala, fica olhando para mim e eu sinto vontade de cantar, mas cantar é a ultima coisa em que devo pensar agora. Ele é moreno, falso magro, talvez tenha vinte anos ou quando muito 23, seus olhos são de cor cinza e eu quero olhar para ele, mas olho para o chão. Ele está sentado no sofá logo na minha frente e se meu pai não estivesse morrendo, eu poderia olhar seus músculos. Podia olhar seus braços fortes quando ele os cruza. Podia olhar um pedaço de suas pernas. Podia olhar seu tórax moreno. E sua boca, que tanta sede me dá, eu também podia olhar se meu pai não estivesse morrendo. Mesmo assim olho para ele __ disfarçadamente eu olho. Ele acende um cigarro e eu gosto do jeito dele segura-lo e de como engole a fumaça e depois a solta pelo nariz e pela boca, ah eu quero beijar sua boca, mas escuto um gemido e lembro-me que meu pai está morrendo. Então ele me olha com seus olhos cinza e eu fico querendo cantar. Tento pensar em meu pai. Nunca, em toda minha vida, nem quando eu era criança, meu pai me abraçou me beijou ou passou as mãos nos meus cabelos. Não me lembro de vê-lo rir alguma vez. Lá no sofá, o vizinho cruza os braços -- ele não devia fazer isso. Eu podia dizer a ele que meu pai sempre foi um homem triste. Acho que ele ia entender perfeitamente. Minha mãe sai do quarto onde meu pai está morrendo, para na minha frente e diz que ele está me chamando. Todos me olham e o vizinho me olha com seus olhos cinza e eu quero cantar, e entro no quarto, onde meu pai está morrendo. Eu me ajoelho na cabeceira da cama e a mão de meu pai começa a tatear meu rosto no escuro do quarto, como se seus dedos quisessem recordar para todo o sempre como é meu nariz, minha boca, minha testa. E meu pai fala: ___Meu filhinho! Nunca tinha me chamado assim e agora na hora da morte repete: ___filinho! Meu pai segura minha mão e pergunta se eu me lembro de quando caçávamos patos selvagens. Repondo que sim e meu pai rir e diz: __a gente era feliz e não era? Digo que sim e outra vez meu pai rir, ele está morrendo e rir. Deixo meu pai morrendo dentro do quarto e volto á sala lá está ele, o vizinho, sentado no sofá como o mestre sala da escola de samba; mas não é hora de ser alegra, e eu subo a escada que leva á parte de cima da casa, deito na cama, com a cabeça enfiada no travesseiro, e fico pensando em meu pai. Escuto a escada e imagino que alguém vem me dizer que meu pai morreu. Tiro a cabeça do travesseiro e olho: é o vizinho que vem chegando. Quero cantar, mais isso não posso nem devo fazer. Ele senta na cama e eu beijo sua boca de lábios ressecados. Ele levanta-se fecha a porta do quarto onde estamos e volta, e eu o abraço e beijo. Eu o comparava aos anjos quando via passar de manhã, mas agora meu pai está morrendo e eu o tenho nos braços, suspeito que ele seja o demônio que veio me tentar. Nus no quarto, eu ele nos amamos. O vento sopra uma aragem em nossos corpos nus e suados. Eu sinto na boca o gosto salgado da pele. E ele Diz: “O sal está na rosa silvestre”. Pergunta: Conhece T.S Eliot? Eu digo que não. E ele declama: “Não sei muito acerca dos deuses, mas creio que o rio é um deus castanho...” E uma canção começa a cantar dentro de mim como uma festa, mas eu sei que não é hora de cantar, nem de festa, afinal meu pai está morrendo.
Adaptação do romance de Roberto Drumond para poema: Autor (Desconhecido)